domingo, 23 de julho de 2017

Voz e sentimento



Não me importa o verso por completo,
Por não comportar o todo não-verbal do sentimento.
Mas esse enigma de megatons:
Sons em forma de língua
Serve-nos de clareza no escuro.
E as trevas: soberania das palavras profanadas
Em nome do deus dinheiro,
Engoli-nos a cada dia
Como um sanitário de buteco.
Essa pressão do universo
Que me torna um compacto atômico humano
Parece uma indústria,
Indústria sem dono, no abandono das cidades, todas mortas.
Minha mãe lusitana,
Não sei quantas vezes neta da protolíngua;
És consangüínea do Lácio;
Irmã de tantas outras sofredoras;
Já que tens vida própria,
Uni-vos os laços.
Fazei com que as lembranças
Do teu berço ensangüentado
Sirva-nos de univocidade, espaço.
Que através da tua imagem
Propague-se somente a verdade;
E que teu conhecimento
Não sirva de alienação dos povos,
Porque és essência dos primeiros homens antropófagos;
E é através do verbo,
Esse invisível rasgo no ar
Que mascara os hipócritas;
Que podemos transformar o mundo em arte,
Arte em ciência,
Ciência em vida,
E não vida-morta-vida
Ao jogo da sorte;
Da maldade simplesmente à morte.


(Lucas Anderson)

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